segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Cleópatra, a última rainha do Egito - Parte 1



O texto a seguir foi elaborada por uma amiga e aspirante a arqueóloga, Márcia Jamille, grnade estudiosa de nosso amado Egito Antigo.

Qualquer fato relacionado a vida de Cleópatra tornou-se, na atualidade, algo questionável. Teria mesmo a última rainha do Egito se suicidado com uma serpente? Uma naja realmente teria veneno suficiente para matar a rainha e duas de suas servas? Suas artimanhas seriam meras lendas ou fatos reais? Pesquisas no templo Taposiris Magna, localizado próximo ao Lago Abusir (antigo Lago Mariut – tendo a Norte a cidade de Alexandria), construído durante o reinado de Ptolomeu II (282-246 aC) revelaram achados que podem indicar o local como o túmulo da rainha Cleópatra, despertando mais uma vez a curiosidade sobre a vida desta mulher.

Este material é um resumo da biografia conhecida da rainha Cleópatra realizada pelo grego Plutarco (45 – 120 d.C) - que também fizera uma síntese sobre o mito de Ísis e Osíris -, mas para tal utilizei como base o trabalho da professora aposentada E. D. Benchley da Oxford University.

1.0 - Raízes gregas

Com a morte de Alexandre Magno em 331 a.C e a ausência de descendentes legítimos para herdar seu reino, seus generais disputaram suas conquistas. Nesta época o Egito, uma terra rica e produtiva, já estava em mãos gregas. No momento da divisão de bens foi Ptolomeu, conselheiro e um dos generais de Alexandre, quem ficou com o local, tornando-se o primeiro faraó da dinastia ptolomaica em 304 a.C governando na então capital Alexandria, que foi planejada pelo grego Dinocrates. Quem chegava a cidade pelo o mar se deparava com um grande farol de cerca de 100 metros de altura erguido na ilha próxima ao porto chamada de Faros. Segundo os documentos o farol era decorado com mármore branco, e sua exuberância, além de tamanho nada convencional, lhe garantiu ser uma das sete maravilhas do mundo.

Ptolomeu teve varias esposas, mas uma se destacou: Berenice, a mãe do então herdeiro, embora ele não fosse o filho mais velho do faraó. Sugere-se que ela era irmã do rei, o que só demonstra que casamento consangüíneo da era Ptolomaica permaneceu fiel a tradição dos antigos governantes egípcios que imitavam seus deuses, casando-se com parentes próximos para manter a “pureza” divina.

O herdeiro chamou-se Ptolomeu II, que se casou com a meia irmã Arsinoe que lhe deu o filho Ptolomeu III Evergetes, depois se casou com uma irmã sanguineamente mais próxima chamada também Arsinoe.

Ptolomeu III se casa então com a irmã Berenice e da união nasce Ptolomeu IV Filopator, considerado a primeira “semente ruim” ptolomaica, uma vez que era impiedoso e lhe é atribuído o assassinato do pai e da mãe. Com a sua morte sua esposa acende ao trono, mas é morta pelos os ministros e substituída por seu filho Ptolomeu V Epifanes.

Como não tinha irmãs, Ptolomeu V se casa com Cleópatra I que deu a luz a Ptolomeu VI que se une matrimonialmente com a irmã Cleópatra II que dá a luz a Ptolomeu VII Neo Filopator.

O casal ainda divide o poder com o irmão Ptolomeu VIII, mas com a morte de Ptolomeu VI o trono passa para o sobrinho Ptolomeu VII. Ptolomeu VIII e a viúva Cleópatra II casam-se e tem um filho, mas o esposo trai a rainha com a filha desta chamada Cleópatra III.

Ptolomeu VIII demonstra um caráter particularmente mais desprezível quando assassina o filho com medo de que este venha a ser uma ameaça ao trono. Com a morte da rainha ele e Cleópatra III reinam juntos sob matrimonio e após a sua morte a moça escolhe seu filho mais novo, o Ptolomeu X, pondo de lado o primogênito Ptolomeu IX Soter que assumiu o governo da ilha do Chipre.

Ptolomeu X casou-se com a sobrinha Cleópatra IV Berenice, que após a morte do marido e do pai (que chegou a torna-se faraó também) permaneceu no poder casando-se com o seu filho Ptolomeu XI, mas depois de duas semanas e meia de casados ele mata a mãe/esposa, mas é assassinado por uma turba enfurecida.

Ptolomeu XI teve somente filhos ilegítimos, contraídos fora de um casamento monárquico, aos quais a dois deles lhes foi concedidos os reinos do Egito e Chipre. O que ficou com o primeiro foi Ptolomeu XII, que se casou com a sua irmã Cleópatra V. Nesta época o império romano já estava encontrando o seu auge e afirmava ter o testamento de Ptolomeu XI onde se afirmava que o Egito era a herança que ele deixava para Roma, muito embora não tenha sido apresentada a copia de tal documento.

Com o medo da ameaça abusiva do império romano o faraó Ptolomeu XII teve que pagar enormes quantias para Roma, afim de que seus soldados não invadissem o Egito, um medo que se tornava mais latente quando Chipre foi tomada. Assim sendo os egípcios optaram por se desfazer de Ptolomeu XII exilando-o em Roma no ano 59 a.C e pondo no trono sua filha Berenice.

Em Roma o rei foi bem acolhido por Pompeu, Crasso e Julio César, principalmente pelo o primeiro que o recebeu em sua própria casa e apoiou os direitos monárquicos do exilado, embora saibamos que esta atitude não foi por amizade e nem compaixão e sim por dinheiro: Ptolomeu XII teve que pagar uma considerável quantia tanto a Pompeu como a Julio César que garantiram o retorno, sob escolta, do rei ao Egito.

Ao chegar a Alexandria, Ptolomeu XII ordena a execução da filha, nesta época a nossa Cleópatra (Cleópatra VII), a qual se dedica o assunto deste trabalho, tinha quatorze anos quando sua irmã mais velha foi assassinada e tornou-se a próxima na sucessão. Diz-se que também foi na chegada da escolta romana que a pequena tinha visto pela a primeira vez Marco Antônio.

2.0 - A ascensão de Cleópatra VII ao trono

Não se sabe quem é a mãe de Cleópatra VII, então especula-se que seja filha de uma segunda esposa de Ptolomeu XII.
Ela na verdade não se destaca na história egípcia somente devido aos seus romances, mas sim por ter sido a primeira da família ptolomaica a falar o idioma egípcio, ao contrario dos demais governantes da dinastia que só falavam grego.

Além da vantagem de ser poliglota, parece ter sido bastante astuta, o que lhe conferiu tornar-se alvo de interesse de duas cabeças importantes de Roma. Seu empenho pelos estudos não ficou somente nas línguas, ela interessava-se também por ciências e literatura.

Quando Ptolomeu XII morreu em 51 a.C e Cleópatra alcançará a idade de quinze anos e seus irmãos dez e sete anos, Pompeu tornou-se tutor dos príncipes egípcios. De acordo com o testamento do rei falecido, a princesa deveria então casar com o seu irmão Ptolomeu XIII e governarem juntos, no entanto, vendo que a jovem não planejava de fato dividir o poder com o irmão um eunuco chamado Potino e um político chamado Áquilas resolveram unir-se ao garoto para derrubar a irmã, mas claro que depois de afastar a rainha eles ambicionavam governar usando o menino como fantoche.

Neste meio tempo, em Roma, o choque de idéias entre Pompeu e César, o qual estava cada vez mais ganhando popularidade, fez com que se ocorresse uma ruptura de aliança e os dois travaram batalha.

Acreditando ser Pompeu o mais forte, a rainha Cleópatra lhe envia então apoio através de reforços navais e cereais para alimentar o exercito.

Provavelmente aproveitando a insatisfação egípcia por sua governante estar ajudando a odiada Roma, Ptolomeu XIII, já com quatorze anos de idade e instigado por seus conselheiros, iniciou incitações ao povo para desmoralizar o prestigio de Cleópatra.

O objetivo foi alcançado e Cleópatra mais sua irmã Arsinoe fugiram para a Síria.

César derrota Pompeu na batalha de Farsália no ano de 48 a.C e torna-se o governante total de Roma.

Pompeu segue então para o Egito acreditando que receberia asilo, assim como fez anos antes com um dos ptolomeus, mas foi assassinado e teve tua cabeça cortada para ser presenteada a César, a autoridade maior romana que chegou à Alexandria muitos dias depois no encalço de Pompeu. Ser presenteado com a cabeça do outrora amigo e principalmente cidadão romano o deixou decepcionado.

Depois de sepultar Pompeu, César percebeu a realidade do governo egípcio e enviou mensagens pedindo que os irmãos se reconciliassem, mas ambos tinham planos diferentes do dele.

Cleópatra aproveitou a estadia de Júlio Cesar em Alexandria e resolveu vê-lo, mas num momento em que o irmão não estivesse presente para não influenciar na sua conversa com o governador romano. Ela navegou de volta a capital egípcia em uma embarcação simples e foi enrolada em um tapete para que se passasse por uma encomenda. Carregado por um empregado o “pacote” é levado para os aposentos de Julio César.

De acordo com Plutarco os dois tiveram relações sexuais naquela mesma noite e no outro dia Ptolomeu XIII foi ter uma reunião com César e quando viu a irmã ao lado do governador percebeu que Cleópatra estava um passo a sua frente.

Em determinado momento de sua estadia no Egito, César deixou bem claro para os dois irmãos que deveriam governar juntos, como estava no testamento de Ptolomeu XII. No entanto, apesar de promover a união dos dois ele continuava a dormir com a rainha, o que provocava o descontentamento entre os egípcios já que sua soberana traia o faraó com um estrangeiro de forma extremamente descarada.

O descontentamento provocou uma revolta civil que implicou no uso do exercito por Potino e Áquilas, os conselheiros mais próximos de Ptolomeu XIII, mesmo que o seu rei não lhes desse a ordem de insinuar uma batalha contra os romanos.

O conflito armado ocorreu na própria Alexandria, Arsinoe, que até então estava encarcerada na prisão do palácio junto a Ptolomeu XIII, conseguiu escapar e juntou-se a turba que a aclamou como a nova rainha do Egito.
Áquilas, que estava no comando do exercito que invadiu a cidade teve sua morte encomendada por Arsinoe que declarou o seu eunuco Ganímedes o novo general. Já no palácio, César mandou executar Potino e libertou Ptolomeu XIII da prisão. Quando se viu livre sua primeira medida foi se unir a Arsinoe, o que, claro, travou o seu destino.

Quando os alexandrinos tomaram a ilha de Faros, César receou que eles tomassem sua frota naval e mandou que ela fosse incendiada. As chamas provocadas por esta ação durou dias e se espalhou tomando alguns pontos da cidade, inclusive a biblioteca de Alexandria, conhecida por ter possuído milhares de volumes sobre a civilização grega, ciências e literatura, o que acabava por atrair a atenção dos melhores pesquisadores que existia.

A certa altura César conseguiu recuperar a ilha de Faros, mesmo com o auxilio de sua reduzida tropa, mas os egípcios, que estavam em uma força consideravelmente maior, continuaram ferozes. Em fim, quando reforços chegaram de Roma a batalha que tinha durado seis meses pode em fim chegar ao fim. Ptolomeu XIII tentou escapar dos romanos pelo o rio, mas sua embarcação foi a pique e o rei morreu afogado.

3.0 - César e a rainha Cleópatra

Com a vitória, César ordenou o restauro da cidade e entregou o poder a rainha Cleópatra e seu irmão mais novo, Ptolomeu XIV, que tinha onze anos. Com o novo casamento a vida monárquica egípcia poderia continuar. Já a rainha dos rebeldes, Arsinoe, foi exilada em Roma.

Cleópatra então engravidou, mas como não podia, e nem queria, declarar que a criança pertencia a Ptolomeu XIV, ela teve uma idéia. Todos no Egito sabiam que o pai era Júlio César, logo ela reuniu-se aos sacerdotes e pediu que eles afirmassem à população que o governador romano era a reencarnação do deus Amon, assim, não teria problema algum que a rainha engravidasse dele.

A criança que Cleópatra esperava seria o único filho de César, já que nenhuma das esposas que ele tivera em Roma lhes deu um.

Com o passar dos dias a pressão para voltar a Roma só continuou a aumentar, e após passar uns tempos com a rainha egípcia navegando pelo o Nilo para conhecer a cultura do norte da África, César retornou para os romanos. Semanas depois o seu filho nasce. Presunçosamente a criança ganhou o nome de Cesarion, e Cleópatra mandou que se cunhassem moedas com a sua imagem segurando o menino.

Quando Cesarion alcançou os dois anos de idade, Cleópatra e o esposo foram para Roma durante as celebrações de triunfo das guerras de César. Quando chegou teve que assistir a sua irmã Arsinoe desfilar de forma humilhante e acorrentada pelas as ruas, apresentada como um troféu do governador.

A rainha egípcia ficou hospedada num bairro periférico e era tratada como uma convidada especial de César, o qual ia visitá-la freqüentemente, mas, apesar de ter conhecido o filho pessoalmente, não o reconheceu como seu herdeiro legitimo, muito pelo o contrario, ele definiu em seu testamento que caso ele não tivesse um filho seus bens teriam que passar para o seu sobrinho Otávio, filho de Átia, e irmão de Otávia.

Com o aumento de seu poder Júlio César tornou-se Imperador e Ditador Vitalício, mas o senado não estava contente com o seu governo acreditando que por receber tal poder ele seria uma ameaça. Dois nomes do senado começaram a tramar uma conspiração: Cássio e Brutos, sendo que este último era alguém ao qual César depositava total confiança.

Certa tarde ao chegar ao senado o ditador foi surpreendido por adagas que estavam escondidas nas togas dos companheiros. Os demais senadores que não faziam parte da trama só puderam assistir ao assassinato do imperador.

Depois de Júlio César o homem mais poderoso de Roma era Marco Antônio, e este, quando soube do assassinato fugiu disfarçado de escravo até a sua casa onde mandou uma mensagem para a esposa de César pedido-lhe os documentos administrativos. Ela lhes cede os papeis que agora ficariam em poder de Antônio.

Quando o testamento do imperador foi a público o povo romano soube que também eram herdeiros do ditador, pois ele deixará uma quantia considerável de dinheiro para cada cidadão e que Brutos, um dos seus assassinos, deveria ser o tutor do filho que César poderia vir a ter. Tomando ciência destes fatos os romanos decidiram condenar o grupo de conspiradores.

Otávio, o herdeiro legítimo do tio, ficou sabendo do ocorrido só semanas depois, mas durante este período Marco Antônio já estava disposto a torna-se o substituto de César no poder.


Fonte:

http://www.arqueologiaegipcia.com.br/texto_cleopatra_ultima_rainha_egito.html

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